Desde o seu nascimento, a 1 de janeiro de 1976, na aldeia beirã de Picha, que José Libório mostrou estar à beira da glória. Mas mesmo à beira: esteve à beira de ser o primeiro bebé do ano, mas nasceu um segundo mais tarde; esteve à beira de ser o primeiro homem na vida da bela Vanessa Cristiana, mas a equipa de juniores do Sertanense chegou primeiro; esteve à beira de ir viver para os Estados Unidos, mas a camioneta que apanhou na paragem situada junto à sede da Associação de Melhoramentos da Picha não o levou mais longe do que a vila de Pedrógão Grande.

A América era, de resto, uma obsessão desde tenra idade, em grande parte porque significava a fuga de uma infância e adolescência marcadas pelo sofrimento que lhe era infligido pelos colegas que o gozavam devido à sua origem (os vizinhos da aldeia da Venda da Gaita eram particularmente cruéis).

Ficar-se por Pedrógão Grande, apesar de tudo, não o desmoralizou: tornou-se cliente regular do clube de vídeo local, tendo alugado todos os filmes da considerável coleção de westerns clássicos de que o clube dispunha, ainda em formato VHS, e arranjou emprego numa vacaria, para poder continuar a viver o seu sonho.

Foi numa longa noite passada com Bud Spencer, Terence Hill e uma daquelas cassetes em que é preciso meter um líquido para proceder à limpeza das cabeças do leitor de vídeo, que José Libório decidiu comprar uma câmara de vídeo e tornar-se no novo John Ford. E o plano quase resultou, se por ‘quase’ entendermos que ‘passou a milhares de quilómetros de distância’.

Porém, as suas aventuras cinematografias, que tinham nas vacas e nos seus colegas trabalhadores pecuários os grandes protagonistas (anos mais tarde, Libório referir-se-ia a si próprio como o precursor de “O Segredo de Brokeback Mountain”, se Ennis del Mar fosse nome de vaca e Jack Twist de beirão pançudo), chegaram ao conhecimento de Afonso Barata, que o convidou para chefiar o projeto do Canal do Fundinho, em 2008.

Desde então, José Libório tem sido a alma por detrás do projeto televisivo do Jornal do Fundinho, assegurando os textos, a edição de imagem, o grafismo, a sonorização, a pesquisa, a limpeza do pó dos armários e a passagem semanal da esfregona pelos mosaicos.